O que a neurociência diz sobre o autoarrependimento?
- Daniela Vital
- há 5 dias
- 3 min de leitura
1. Regiões cerebrais envolvidas no arrependimento:
Córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC):Responsável por avaliar consequências futuras e pesar escolhas. Pessoas com lesões nessa área têm dificuldade em experimentar o arrependimento.
Córtex cingulado anterior: Envolvido no monitoramento de erros e conflitos internos. Ele nos ajuda a perceber quando fizemos "algo errado".
Amígdala e ínsula: Ligadas às emoções negativas, como culpa, vergonha e medo – sentimentos que comumente acompanham o arrependimento.
Estriado ventral: Associado à recompensa e ao valor das decisões. Quando percebemos que outra escolha teria sido melhor, essa região ativa o sentimento de perda ou frustração.
2. Arrependimento x Aprendizado:
O arrependimento tem uma função adaptativa. Ele nos ensina a evitar erros futuros. Do ponto de vista evolutivo, sentir-se mal por uma decisão equivocada aumenta a chance de tomarmos melhores decisões depois.
🔁 Neuroplasticidade: Quando sentimos arrependimento e refletimos sobre isso, novas conexões neurais podem ser formadas, reforçando o aprendizado.
3. Arrependimento crônico ou paralisante:
Nem sempre o arrependimento é produtivo. Quando ele se torna ruminação, pode ativar circuitos neurais ligados à depressão e à ansiedade. Isso acontece quando:
O córtex pré-frontal entra em loop, revivendo a decisão;
A amígdala se mantém hiperativa, gerando sofrimento emocional;
Há desequilíbrio na produção de dopamina e serotonina, o que prejudica a regulação emocional.
4. Como transformar arrependimento em cura emocional (com base na neurociência):
✔️ Autocompaixão ativa o sistema de calma e regulação emocional (córtex pré-frontal + sistema parassimpático).
✔️ Reestruturação cognitiva, como na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), ajuda a reinterpretar decisões passadas de forma mais racional e menos autocrítica.
✔️ Meditação de atenção plena (mindfulness) reduz a atividade da amígdala e aumenta a consciência do momento presente – essencial para não se prender ao passado.
✔️ Expressão emocional consciente, como escrever sobre o arrependimento ou compartilhar em ambientes terapêuticos, reorganiza memórias e ativa a área de linguagem e coerência emocional (área de Broca + córtex pré-frontal).
🌱 Conclusão
O autoarrependimento, pela neurociência, não é apenas sofrimento: é também uma porta de entrada para o crescimento emocional e a evolução do cérebro. Quando acolhido com consciência e autocompaixão, ele se transforma em um instrumento de autorregulação emocional e aprendizado.
🧠 Quando os erros ultrapassam a "normalidade"
Na perspectiva da neurociência e da psicologia, todos erram. Errar faz parte do funcionamento do cérebro humano, especialmente de suas tentativas de adaptar-se, sobreviver e aprender.
Mas há momentos em que a sensação de “errei demais” ou “meus erros não têm volta” se torna insuportável. Nesses casos, os erros:
Deixam de ser experiências de aprendizado;
Tornam-se pesos emocionais crônicos;
Ativam circuitos neurais ligados à culpa, vergonha, punição interna e até autodestruição.
1. Quando o erro se torna traumático ou disfuncional
O erro ultrapassa a normalidade quando:
É repetitivo e traz consequências graves (prejuízos afetivos, profissionais, éticos, espirituais);
Gera um padrão de autossabotagem crônica;
Desencadeia estados emocionais como:
Culpa paralisante
Vergonha tóxica
Auto-ódio
Ideias de punição ou não merecimento
Afeta funções executivas do cérebro: foco, planejamento, tomada de decisão;
Se associa a distúrbios psicoemocionais como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo ou borderline.
❗ Exemplo cerebral: a amígdala (centro do medo e da dor) entra em hiperatividade crônica, enquanto o córtex pré-frontal (área do raciocínio e tomada de decisão) fica inibido. Isso gera reatividade emocional + julgamento severo + paralisia.
2. A neurociência da vergonha e da culpa excessivas
Quando você sente que errou demais e isso se transforma em autoacusação intensa, o cérebro ativa:
A ínsula anterior, ligada à percepção do corpo e emoções como vergonha (sinto no corpo).
O circuito da dor social, semelhante à dor física.
A desconexão da rede de recompensa, dificultando sentir prazer ou esperança.
Essas ativações crônicas afetam:
Autoestima
Capacidade de perdão
Relações sociais
Percepção de si mesmo como “digno de amor”
🕊️ Como a cura pode começar – mesmo depois de “erros demais”?
Segundo a neurociência e práticas terapêuticas integrativas:
🔁 1. Reprogramação emocional:
Você pode ensinar seu cérebro a interpretar o erro de outra forma. Isso envolve:
Autocompaixão (ativa o sistema de calma e reestruturação);
Neuroplasticidade: o cérebro é capaz de se reorganizar quando há perdão, reflexão e autorresponsabilidade;
Ritualização do recomeço – espiritual e neuralmente potente.
🧘 2. Mindfulness e compaixão:
Reduz o ruído do sistema límbico (emoções intensas) e fortalece o córtex pré-frontal (decisões conscientes). Isso regula:
Culpas do passado;
Catastrofizações do futuro;
Apegos ao erro.
✍️ 3. Escrita terapêutica e reconexão com a dor:
Permite reorganizar memórias. O cérebro transforma uma experiência confusa e dolorosa em narrativa coerente – o que facilita o encerramento e o recomeço.
🌿 4. Ritual de autoabsolvição consciente:
Rituais ativam circuitos profundos de liberação e reconexão. Eles falam com o inconsciente (onde os padrões de culpa vivem). Procurem rituais de autoabsolvição em grupos terapêuticos.

Comments